"Em seus três contos, A Gravata, propõe um exercício de reflexão sobre o tema da loucura. O primeiro conto “O Almocreve” trata das agruras sofridas por um tangedor de mulas capaz de ir até as últimas consequências para manter a tradição dos antigos tropeiros de sua terra. Em “O caldeirão de Balbina” o professor Daydson entrega-se de corpo e alma ao seu hobby de pesquisador da história de sua cidade não se importando que para isso acumule milhares de objetos, que muitos acreditam não passar de quinquilharias. O último conto, “A gravata” traz o servente de pedreiro Pé de Pano e a sua gravata negra, que ostenta com muito orgulho todas as vezes em que vai ao bar com um amigo de trabalho. Em determinada ocasião, Pé de Pano, explica por que costuma usar aquela gravata e a razão inclui um passado de violência e morte. Sendo aquela gravata a prova inconteste de uma época de brutalidade, motivada pela sobrevivência da espécie, cujo descendente orgulhoso de tais crimes seria ele mesmo. Fato que não o impede de defender a memória de seus antepassados e usar um artefato que pode simbolizar um total desapreço pela vida humana.

Todos os protagonistas vivem seus ideais com tal afinco que chegam a flertar com a obsessão e a loucura. De seus pontos de vista, tanto o Almocreve e o professor Daydson, quanto Pé de Pano acreditam cumprir uma missão única e inestimável. Seria então a loucura uma questão de valores e posições que não têm aceitação junto a sociedade? Sendo o louco, simplesmente aquele cujas ações têm o poder de chocar, mesmo que delas não decorram nenhum mal? Seria então a sanidade, apenas a incapacidade de expressar as nossas mais cristalizadas opiniões e mais obscuros desejos? E para suscitar essas e outras questões, lhes apresento, A Gravata!"