A falácia do “Dom” tão comum nas Artes, serve ao mesmo propósito do argumento sobre o “Mérito". Tanto o “Dom”, quanto o “Mérito” tem como objetivo esconder os privilégios, sejam eles de cunho econômico, social ou cultural aos quais as elites têm acesso desde o berço.
Em relação a Arte tudo ao que o indivíduo teve acesso desde a infância como: tempo livre para o estudo de um intrumento musical, aulas de canto, a convivência com outros artistas, ingresso ao mercado cultural, etc. emergirá como “Dom” no discurso do mesmo, como forma de justificar os seus privilégios.
Com isso se perpetra duas violências simbólicas: a primeira diz respeito a negar aos desfavorecidos os mesmos direitos à educação, à cultura e a arte, o outro, coloca a arte como algo metafísico, acessível apenas a um pequeno grupo de elegidos.
Resta ainda o problema em relação àqueles músicos e cantores que mesmo sendo de origem humilde foram virtuosos em sua Arte. Um olhar mais acurado sobre as suas biografias trará algumas respostas. Cada um deles precisou dedidar um largo tempo ao estudo da música ou do canto e para que isso fosse possível, alguém teve que, digamos “carregar o piano”. Houve casos em que foram apadrinhados desde jovens, em outros, algum familiar, geralmente a mãe ou a esposa, se encarregaram das contas, quando as vacas ainda eram magras.
Talvez daí, advenha a péssima fama que os artistas oriundos das classes populares têm entre os seus conterrâneos, vizinhos e amigos de juventude, que os veem como vagabundos, devassos e pouco confiáveis. Atributos que serão parcialmente esquecidos caso o artista alcance distinção por meio de sua arte que lhe traga reconhecimento e poder econômico. Nestes casos, notasse da parte do artista uma certa mágoa com sua “terra natal” ao recordar o modo como lhe tratavam antes do estrelato.
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