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A JEGADA

(Estudo de Diatifose)


E lá vem! Vem que vem o mundo se acabando com focinho a focinho, orelha a orelha. É a última curva e a jegada tá devorando os segundos e levantando uma poeira grossa que embaça as vistas de quem está sentado na arquibancada do Jegodrômo e apostou o dinheiro da feira no Manchado, no Febre-amarela ou no Furta-cor.


O negócio agora é entre Manchado e Febre-amarela. O primeiro é filho de jegue campeão e tem história na corrida. O segundo não passa de um azarão, há poucas horas estava puxando madeira da caatinga nos cambitos e só por loucura de seu dono é que foi parar nesse aperto. Eles pegam a reta: os cinquenta metros que separam a glória do fracasso. Os jóqueis, que não passam de uns moleques de canela fina e de braços curtos, parecem que vão chegar primeiro do que as suas montarias.


Aquele que guia Febre-amarela ainda traz a boca suja da buchada que acabou de engolir como parte do pagamento por encarar tal aventura. Um dos braços segura as rédeas, que não passa de uma corda de caroá, enquanto o outro açoita o pobre animal sem piedade. Quanto à Manchado, eis que tem mais sorte, quem o guia é um aprendiz na doma de burros chucros com algum conhecimento na arte das corridas. O que não impede que também o flagele em busca da vitória.


Uma linha traçada com cal é a chegada. Para aquele ponto se dirige milhares de olhos, sedentos por um final que agrade a todos. Eis que nas últimas patadas, o vento muda de direção e a poeira invade a cena impedindo que os presentes vejam quem foi o vencedor. Mas isso não importa, ao menos para os jegues que após se desfazerem do peso que carregaram por quinhentos metros, saem no trote para comerem juntos um verde e suculento capim mimoso.


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