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Comadre Fulozinha


Tem a cor do capim no mês de agosto e seus olhos recordam as noites mais escuras. O tamanho não corresponde a sua coragem e seu assobio tem a potência de um bando de acauãs. Habita os lugares mais inóspitos da caatinga o que não lhe impede de ter encontros desagradáveis com seres de menor importância, aos quais apenas tolera pelo fato de lhe proporcionarem o deleite de seu vício.


Não fosse o tabaco já teria dado cabo a essa raça, mas concorda que para ao menos uma coisa eles servem. Diverte-se com o medo que desperta nos viajantes e no pavor que pressente no rosto dos caçadores. Bate nos cachorros somente quando é estritamente necessário e para isso costuma usar galhos de urtiga, que coçam mais do que doem.


Fora todos esses afazeres dos quais não se orgulha, exigir tabaco para liberar passagem e castigar caçadores incautos, acha que a vida que tem lhe vale a pena. Passa a maior parte do tempo a se balançar em redes que faz entre os cipós e fica revoltada quando os sertanejos lhe fazem acusações levianas, como a de trançar clina de cavalo e queimar o feijão. — Nem seu eu fosse o Saci! — Reclama.


O que realmente lhe deixa preocupada é o fogo e o machado. Ambos vão aos poucos destruindo a caatinga e a Comadre Fulozinha não sabe viver longe de suas matas. Nem mesmo a crença daqueles que negam a sua existência é tão perigosa quando a destruição da Natureza. — Olha, se ninguém acreditar em mim, tudo bem, eu continuarei habitando o meu lugar de direito que são os vales e as serras. Mas, sem a mata, aí não tem jeito. — Agora medo, medo mesmo a Comadre Fulozinha possui dois: ir parar em algum zoológico ou virar mascote de uma religião neopaganista.




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