O aço brilhava sob a luz do candeeiro e a roda se fechava no entorno dos litigantes. A luz era fraca e mal se podia observar os seus rostos, tanto que as foices eram as únicas coisas realmente visíveis no meio da noite. Enquanto os dois homens se mediam, como as feras que pretendem se bater, ninguém ousou perguntar o motivo que levou àquela contenda. Sabia-se que trabalhavam juntos e tinham chegado da roça para beber no barracão, agora como foram parar no meio do terreiro com os instrumentos de seu óficio em punho, nada imaginava. Ambas as foices eram longas, mas apenas uma tinha o cabo curto, o que poderia ser uma desvantagem para aquele que a empunhava. Após andarem em círculos por alguns minutos avançaram um contra o outro e o choque do metal fez-se ouvir a dezenas de metros. As faíscas que resultaram daquele encontro encheu por um instante a noite de luz. Recuaram, estudaram-se mais um pouco e voltaram a carga. Dessa vez o choque deu-se na altura dos cabos de madeira. Ambos ficaram a centímetros de se tocarem, naquele instante se olharam pela primeira vez depois de tudo o que havia acontecido.
E assim como ninguém jamais soube o motivo de terem se colocado em duelo, também não descobriram o porquê de soltarem as armas e abrindo caminho entre a platéia, saírem daquele círculo que ansiava por sangue e morte.
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