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Foto do escritorAparecido Galindo

DIREITO DE RESPOSTA


Pacífico, mais uma vítima da violência


Faleceu, na madrugada desta sexta-feira, o policial Pedro Paulo Pacífico após ser vítima de ferimentos a bala durante um intenso tiroteio no cruzamento das avenidas Café Filho e Castelo Branco. Este local fica em uma zona nobre da cidade, o que indica que os bandidos já não se satisfazem em aterrorizarem as periferias e que agora, também desejam atuar impunes no Centro. Segundo foi informado através da Secretaria de Segurança Pública do Estado, Pacífico estava na corporação há vinte anos e é mais um agente de segurança a tombar em uma batalha onde os criminosos não demonstram nenhum escrúpulo para alcançar os fins desejados. O investigador deixa três filhos e esposa naquilo que já se tornou uma tragédia para muitas famílias brasileiras que é perder vidas preciosas para o crime.


O cruzamento da morte


Há buracos de bala por todos os lados e quem trabalha ou mora próximo ao cruzamento das avenidas Café Filho e Castelo Branco ainda busca entender o que teria motivado tamanha violência. O saldo de toda essa estupidez? Um policial morto e nenhum criminoso preso. É sabido que o cruzamento é um conhecido reduto de prostituição e um ponto de venda de drogas. Nas proximidades é possível ver mulheres seminuas a qualquer hora do dia e da noite, o que pode ser apenas uma distração para o funcionamento de uma rede de tráfico e contravenção. Na calçada ainda se encontram manchas de sangue, deixadas por um trabalhador, um homem que deveria ser visto como um herói por toda a sociedade. A pergunta que todos faziam nesta manhã era: até quando a bandidagem vai ditar as regras em nosso país? Os comerciantes da região estão assustados e a reportagem colheu alguns depoimentos. Em um deles, um senhor que preferiu não se identificar, declarou — Para eles, os criminosos, um policial e nada é a mesma coisa. Perderam o respeito. E se fazem isso com aqueles que representam o Estado, o que não farão conosco? — O policial Pedro Paulo Pacífico, deixa além de muitos amigos na corporação, um histórico de serviços prestados à comunidade, mulher e três filhos.


Investigação acaba em tragédia


Uma investigação de seis meses acabou em tragédia no Centro da cidade. O plano era prender traficantes e golpistas que atuam na região do cruzamento das avenidas Castelo Branco e Café Filho. No entanto, nesta madrugada, moradores acordaram com o estampido de armas de grosso calibre no que resultou em uma vítima fatal. A vítima? O condecorado policial civil Pedro Paulo Pacífico que atuava como agente infiltrado na região onde se concentra o maior foco de prostituição e venda de drogas da cidade. O ambiente hostil que se instalou no cruzamento não é novidade para ninguém e tem se tornado mais perigoso com o passar dos anos. Antigamente era comum ver famílias passeando por esta importante via, atualmente, nem mesmo os ambulantes ocupam tal espaço. O que se vê é o aumento vertiginoso de dependentes químicos e prostitutas sendo que as brigas entre esses dois grupos se tornaram rotineiras. Ainda na semana passada, uma mulher de trinta e poucos anos, cortou com um estilete a garganta de uma rival. O motivo para tanta violência pode ser o consumo indiscriminado de novas substâncias químicas que causam um efeito devastador no cérebro dos usuários. O policial está sendo velado na 13a Delegacia de Polícia Civil e será sepultado no final da tarde.


Direito de resposta


Decidi exercer o meu direito de resposta por não concordar com nenhuma das reportagens que fizeram a meu respeito. E se acaso ainda estivesse vivo, iria processar tanto os jornais quanto os sites de notícia que veicularam informações, no mínimo duvidosas. Mas como os mortos, principalmente os que são alvejados na cabeça com balas de trinta e oito, não podem tomar parte em processos na justiça; ao menos a minha vontade de colocar os fatos em evidência, será realizada. É necessário deixar claro algumas coisas e como o espaço cedido é escasso, procurarei ser sucinto. Falaram sobre eu ser um pai exemplar, coisa e tal. Mentira! Abandonei minha esposa grávida do terceiro filho, e antes disso só ia em casa deixar minhas roupas para ela lavar. Sei que o nome das crianças é Frank, Mike e Billie por causa da minha banda de rock favorita. Tem o papo sobre ser um policial e combater o crime etc. Outra bobagem. Aliás, essa conversa fiada aí de que milico é herói já elegeu de síndico a Presidente da República e as pessoas continuam acreditando nessa falácia. Não entrarei no mérito de meus colegas que continuam vivos e praticando crimes, não sou cagueta, mas o meu forte era receber propina de negócios envolvendo drogas, jogos de azar e prostituição. Portanto, onde na reportagem está escrito: combate ao crime, leia-se: associado, facilitador, parceiro. Tudo isto me deixou muito puto, puto mesmo! Inclusive a parte que em uma das notícias relatava intensa troca de tiros e uma suposta investigação. Isso é uma falta de respeito com o morto e com a verdade dos fatos. Eu sempre ia no cruzamento, sempre. Mas não era para investigar nada. Também não ia buscar propina! Porque isso aí, propina, os caras depositavam na minha conta. Ou você acha que eu ia pegar, cinco, dez, vinte pau e colocar no bolso! Nem fudendo. Se eu fizesse isso, os colegas da 13a DP me roubavam! Eu ia no cruzamento da Castelo Branco com a Café Filho ver a Vanessa. Ah Vanessa! Ainda lembro os peitos siliconados massageando minhas costas; aquelas mãos grandes me sufocando; aquela voz grave e rouca no meu ouvido e aquela barba recém-cortada roçando no meu pescoço. Que foi? A Vanessa é homem, e daí? Forte, moreno, meigo… O tiro na cabeça, sim foi a Vanessa. Ciúmes? Meus, claro! Estava fora de mim, discutimos, perdi a cabeça, saquei a arma, mas aí ela, com aqueles braços fortes se agarrou ao meu revólver de cano serrado e o resto, vocês já sabem.


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Obra laureada com o Terceiro Lugar no Prêmio Plínio Marcos - 2021 - Diadema, São Paulo.

Obra integrante da Antologia Pretextos Plurais - Editora Clóe - 2022



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