“No carrinho ia tudo o que possuía: uma estopa, para Herbert dormir, um cobertor que ganhou de uma boa alma e sua bolsa preta.”
O trabalho informal não é uma exclusividade das pessoas em situação de rua, mas é ainda mais devastador econômica e socialmente, entre elas. Estima-se que no Brasil, quase 40% da mão de obra esteja ocupada de maneira informal, isso é, sem a proteção dos direitos trabalhistas previstos em lei (1). Quem trabalha de maneira informal está exposto a riscos ergonômicos e ambientais maiores do que os profissionais que atuam amparados pela CLT. A sazonalidade dos ganhos também impossibilita que essas pessoas consigam programar os seus gastos ou consigam suprir as necessidades mais básicas como alimentação e moradia.
Mas a informalidade não impacta unicamente a saúde financeira da população, como também a sua autoestima. Algumas profissões ainda são alvo de preconceito social, cultural e racial e a informalidade agrava ainda mais esse cenário. Os trabalhos manuais e os relacionados ao ambiente doméstico são vistos como funções de segunda classe, relegados aos mais pobres, aos imigrantes, aos negros. Dessa forma, os preconceitos perpetuam-se na sociedade, negando a essas pessoas os seus direitos básicos a educação, moradia e saúde. O que não deixa de ser um movimento orquestrado pela elite econômica e propagado pela classe média, que ao negar a cidadania a milhões de trabalhadores, mantém uma mão de obra de baixa qualificação, mas que atende a seus interesses sendo barata e de fácil reposição.
Seguindo essa lógica da Elite do Atraso (2) os trabalhadores que atuam como catadores de materiais recicláveis talvez sejam aqueles que mais sofram preconceitos. A mesma elite que arrota belos discursos de Desenvolvimento Sustentável e práticas de ESG (Governança Social e Ambiental) implanta lixeiras com cadeados para dificultar o trabalho desses profissionais. Com a desculpa de que os catadores sujam as ruas, todos os tipos de dificuldades são impostos para desestimular a coleta dos materiais. Seja trancando as lixeiras a cadeado ou construindo obstáculos que impeçam a circulação dos carrinhos dos catadores. Atitudes que demonstram toda a aporofobia (3) que a elite brasileira nutre e que busca de todas as maneiras, perpetuar.
Fontes Consultadas
1: Trabalho informal no Brasil – Pesquisado em 17/11/22 as 10:00hs
2: Termo cunhado por Jessé Souza em sua obra A elite do Atraso: da escravidão à Lava Jato – Ed. Leya -2017
3: Aporofobia: medo ou rejeição aos pobres.
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