Eu venho de tão distante
trazendo este meu canto
que pode não ter encanto
e nem ser tão brilhante
mas canto a todo instante
por que nada me aperreia
a poesia em minha veia
corre sem achar barreira
cortando lama e poeira
no cordel da légua e meia.
Abro a boca e minha voz
encontra muitos ouvidos
alguns um tanto perdidos
cheios de “eu” poucos “nós”
tem sabor de avelós
o egoísmo que desnorteia
meu verso chega tateia
perdido por este mundo
mas se acha num segundo
no cordel da légua e meia.
Eu, um filho dos sertões
parido neste Brasil
muitas vezes hostil
com suas populações
trago as inspirações
que a vida me presenteia
este sonho me enleia
a viver sempre cantando
nesta vida acreditando
no cordel na légua e meia.
Que meu verso seja a brisa
a refrescar pensamentos
que desperte sentimentos
dos quais o homem precisa
seja bálsamo que suaviza
a dor que nos arrodeia
pois se a alma titubeia
o coração enfraquece
e nossa mente padece
no cordel da légua e meia.
Que meus amigos poetas
mantenham as mãos unidas
para que cantemos vidas
sempre de portas abertas
que as rimas, sejam setas
sejam fios de uma teia
agricultor que semeia
para colher a bonança
seja paz, seja esperança
no cordel da légua e meia.
Que o mal seja vencido
que ele não contamine
e que a maldade termine
que o amor seja querido
que se abrace o sofrido
com ele se divida a ceia
e não se ponha na cadeia
o inocente e o fraco
cada um ganhe seu naco
no cordel da légua e meia.
Que o ódio não mereça
de nós tamanha atenção
que irmão, abrace irmão
e toda peleja se esqueça
e que em nossa cabeça
não entre o que chateia
por que o ódio cerceia
a existência completa
faça sempre a coisa certa
no cordel da légua e meia.
Que as aves façam ninhos
por entre nossos quintais
que pousem nos varais
cantem em nossos caminhos
que não prendam os bichinhos
dentro de uma gaiola feia
não faça com a vida alheia
o que não quer para a sua
e que a consciência evolua
no cordel da légua e meia.
Que o som dos violões
cantem novas serenatas
calce velhas alpercatas
visite antigos rincões
sinta novas emoções
olhe para a lua cheia
a sua luz delineia
o risco do horizonte
beba água desta fonte
no cordel da légua e meia.
Visite mais os parentes
honre seus antepassados
dê abraços apertados
seja amável e paciente
não zombe do indigente
perdoe quem te aperreia
por que o amor alteia
os espíritos desvalidos
para a vida não há perdidos
no cordel da légua e meia.
E se estiver cansado
pare um pouco e reflita
se não conseguiu, repita
não seja um fracassado
olhe sempre para o lado
ajude a quem cambaleia
uma boa ação desencadeia
muitas energias positivas
tenha as esperança vivas
no cordel da légua e meia.
Sendo esse cordel declamado
com fé a plenos pulmões
no meio das multidões
ou num lugar isolado
ele não pode ser guardado
sua força não se freia
por isso leia e releia
propagando o que ele diz
fique bem, viva feliz
com o cordel da légua e meia.
Obs: obra pertencente ao livro ainda inédito "O cordel da légua e meia" 2020.
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